Talento da cabeleireira e trabalho de valorização da estética negra foram destacados por Moisés Rocha
A solenidade de entrega do Título de Cidadã de Salvador a Valdemira Telma de Jesus Sacramento, a Negra Jhô, na noite de segunda-feira (21), na Câmara Municipal de Salvador, foi “diferente e versátil” como ela mesma se denomina. “Hoje eu sou vista como referência cultural. Através desse meu jeito, sou vista no meio da multidão”, disse. Ela estava certa. Na sua chegada ao Plenário Cosme de Farias, só se via Negra Jhô, apesar da casa cheia.
“Nunca presenciei uma entrada triunfal como essa”, declarou a vereadora Marta Rodrigues (PT). A homenageada atravessou o plenário dançando ao som de tambores e quebrando o protocolo. Para o vereador Moisés Rocha (PT), que requereu e presidiu a sessão especial, a entrada não poderia ser diferente. “Negra Jhô nasceu com os pés no Axé, no terreiro. É filha de Ogum com Yansã e quando atuam juntos há tempestade”.
Nascida no Quilombo Muribeca, em São Francisco do Conde, a dançarina e cabeleireira Negra Jhô vendeu peixe, lavou e cozinhou para sobreviver em Madre de Deus, ainda criança. Já em Feira de Santana, foi destaque em blocos afro e deixou de lado o nome Valdemira para adotar o apelido pelo qual é conhecida nacionalmente.
Em meados da década de 80, mudou-se para Salvador e sofreu com o racismo que lhe impedia de arranjar emprego. “Foi com atitude que Negra Jhô colocou um banco no Largo do Pelourinho, após sair de um salão que não lhe pagava o salário, e foi trançar cabelos”, contou Moisés Rocha.
O talento da cabeleireira atraiu seguidores das ruas do Pelô e celebridades. “O seu estilo muda o visual do Pelourinho e de muitas cabeças, transformando semblantes, resgatando a autoestima e valorizando a estética negra”, apontou o vereador. Por suas mãos já passaram atores e cantores, como Ivete Sangalo, Regina Casé, Preta Gil, Mariana Ximenes, Sandra de Sá, Tony Garrido, dentre outros.
Reconhecimento
Emocionada, a nova cidadã de Salvador enxugava as lágrimas e retocava a maquiagem para, segundo ela, “não fazer feio na foto”. Em seu discurso, Negra Jhô reconheceu sua condição de “representante fiel da cultura afro-brasileira da Bahia” e agradeceu a familiares, amigos e ao vereador Moisés Rocha. “Entrei em Salvador pela porta da frente. Fui adotada e acolhida majestosamente. Esse título é uma benção, é o retorno do que plantamos e cultuamos”, assinalou.
Estiveram à mesa da sessão, o marido da homenageada, Luiz Passos; o irmão Waldir Sacramento; o professor (e primo), Roberto Queiroz; a professora Edenice Santana; o presidente do Projeto Axé, Cesare La Rocca; e Joaquim Assis, representando o Grupo Eterna Juventude. As vereadoras Olívia Santana (PCdoB) e Vânia Galvão (PT) também participaram da solenidade.
Fonte: CMS
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